Pra começar, essa pergunta faz sentido? Se lidamos com pessoas todos os dias, seria natural que nós fossemos melhores líderes de nós mesmos, correto? Aparentemente não.
A Oracle e o instituto Future Work fizeram uma pesquisa com mais de 8 mil empregados, profissionais de RH e gestores em dez países, incluindo o Brasil. O resultado mostrou alguns números interessantes, sejam bons ou ruins.
Vamos começar pelas coisas boas. No geral, há um sentimento positivo em relação à adoção da inteligência artificial no trabalho. Isso é um bom sinal, especialmente quando o posicionamento geral é de que a tecnologia irá tomar todos os nossos empregos. 53% das pessoas está empolgada em ter um robô como colega de trabalho. Essas pessoas enxergam a adoção da Inteligência Artificial como um meio para mais tempo livre, oportunidades para aprender novas habilidades e desempenhar um papel mais estratégico nas organizações.
Outro dado interessante: os Millennials estão mais empolgados com a inteligência artificial (31%), seguido da Geração Z (24%), Geração X (22%), e finalmente, os Baby Boomers (14%).
Agora vem o lado ruim e preocupante da adoção da Inteligência Artificial no ambiente de trabalho: ela inspira mais confiança nas pessoas do que outras pessoas, especialmente em casos de chefia. 64% das pessoas acredita mais em um robô do que na chefia humana e 80% acha que a inteligência artificial faz certos tipos de trabalho melhor que os humanos. Um desses trabalhos? Oferecer opiniões sem viés (36% das pessoas deu essa resposta).
Os números destacados me preocupam bastante. Ao que parece, ainda há um desconhecimento sobre a origem da inteligência artificial. Cada linha de código foi feita por pessoas que colocam ali os seus vieses, experiências e visão de mundo. Quando falamos de tecnologia, não existe opinião sem viés e sim opinião com múltiplos vieses. Existem alguns casos bem esquisitos quando não garantimos a diversidade entre os programadores de inteligência artificial, sendo a Tay, da Microsoft, um dos mais impressionantes. A robô tornou-se racista e nazista em apenas um dia. Não estou dizendo que os responsáveis compartilham das opiniões abraçadas pela robô. Eles só não tomaram os cuidados necessários para que isso acontecesse.
Sobre as pessoas preferirem a interação com máquinas ao invés da chefia humana, parte vem do desconhecimento acima, parte de uma questão geracional – as gerações mais novas são mais digitais – e parte vem do estigma do que é chefia. O próprio papel da liderança e suas atribuições têm sido colocados em questão, e por isso é importante o desenvolvimento de novas habilidades e funções. A pesquisa mostra que as pessoas são melhores que o robô na empatia, na orientação de pessoas e na criação de uma cultura organizacional. Se os empregados querem desempenhar papeis mais estratégicos, as pessoas na liderança também precisam pensar dessa forma.
Recomendo a leitura do documento todo, que pode ser acessado aqui. Mostra que a discussão sobre transformação digital e desenvolvimento de habilidades sociais ainda é muito relevante para as organizações. A questão é entender como se preparar para essas mudanças e como promover o desenvolvimento dessas habilidades.
Vamos conversar?